Todos os anos em Chiang Mai, no norte da Tailândia, é comemorado um festival de beleza icônica. São três dias de eventos pela cidade que incluem longas celebrações com cânticos budistas nos templos, apresentações de danças tradicionais da cultura Lanna, desfile de carros alegóricos e sobretudo um verdadeiro espetáculo de milhares de lanternas lançadas nas águas e nos céus ao mesmo tempo. Eu tive a oportunidade de participar dessa festa e procurei entender como os tailandeses celebram o Yee Peng pelas ruas da cidade, longe dos eventos fechados para turistas.
Quando acontece o Yee Peng
Yee Peng vem da palavra “yee” referindo-se ao “segundo mês lunar” e “peng” significa “noite de lua cheia”. Assim, “yee peng” refere-se à noite de lua cheia do segundo mês lunar do calendário Lanna, antigo reino do norte da Tailândia cuja capital era Chiang Mai.
Essa noite de lua cheia marca exatamente o Loi Krathong, evento celebrado por todo o país e que integra as festividades do Yee Peng. Clique aqui para saber mais sobre o Loi Krathong (é importante para entender a dimensão desse evento).
A data também é comemorada com festividades em outros países do sudeste asiático como no norte da Malásia, no festival Boun That Luang no Laos, o Tazaungdaing no Myanmar e o Bon Om Touk no Camboja. Trata-se de um momento chave para todos esses povos, pois marca o fim da longa temporada de chuvas da região, a época de colheita dos campos de arroz e início da estação fria.
Festival de luzes
Dias antes do Yee Peng a cidade já está toda enfeitada por lanternas coloridas variadas. Essas lanternas típicas da região são feitas de papel e bambu e ficam penduradas nos templos e estabelecimentos comerciais.
A luz das lanternas é associada à sabedoria que clareia o caminho na escuridão. Acredita-se que a oferta de lanternas é auspiciosa e traz mérito, e o fazem em homenagem à iluminação de Buda.
No dia da abertura oficial do festival, velas são acesas nas muralhas da cidade antiga, nos templos e até nas calçadas e portas de estabelecimentos. É lindo andar pelas ruas e ver todas as casas cercadas por velas – ouvi falar que se acende uma pra cada morador do lugar.
Cerimônias e ritos
A abertura do festival acontece na praça do Three Kings Monument, que fica decorada com lanternas e espaço para acender velas todos os dias. Há uma cerimônia solene com figuras públicas importantes, incluindo o prefeito da cidade e monges eminentes.
Nessa abertura assistimos um longo sermão budista com cânticos em pali. Mesmo sem entender nada, fiquei emocionada com a sonoridade das palavras, a lua no céu, a praça repleta de velas e lanternas acesas. Impressionante o silêncio que toma conta da praça, mesmo estando abarrotada de locais e turistas.
Logo depois é acesa a vela oficial do Yee Peng que fica exposta num lugar privilegiado, e então se inicia a apresentação de uma dança tradicional da cultura Lanna. Trata-se do Fon Tian, uma dança realizada com velas em movimentos lentos e graciosos. São centenas de senhoras e crianças se apresentando e fiquei contente de ver alguns meninos vestidos com o mesmo traje dançando com graça.
Durante essa noite e as seguintes todos os grandes templos da cidade ficam lotados de monges e fiéis realizando a leitura do Vessantara Jataka, uma escritura do cânone Pali muito importante para o budismo theravada. Esse texto conta a história de uma das vidas passadas do buda Siddhārtha Gautama que enaltece suas virtudes de profunda generosidade e desapego dos bens materiais.
Os templos são decorados com todos os tipos de lanternas, bandeiras coloridas, uma abundância muito grande de flores e com o famoso Sai Sin, barbante consagrado que conecta todos os presentes numa reunião ao Buda no altar.
A noite da lua cheia
Com o fim da longa temporada chuvosa, o céu noturno está limpo e o clima fresco. Na noite do próprio Loi Krathong, a lua cheia navega no horizonte em um céu cheio de luz. É chegada a hora acender as khom loi, lanternas flutuantes, que erguem-se no céu como uma galáxia de estrelas alaranjadas.
As lanternas de papel que flutuam com o ar quente até os céus supostamente levam embora as energias ruins e karmas negativos. Também são realizados pedidos no ato. Para a magia funcionar, é preciso que o balão se impulsione rapidamente sem bater em nenhum obstáculo.
Sob esse show de luzes e fogos de artifício, os krathongs floridos e iluminados seguem flutuando pelo rio Mae Ping. Um cenário que realmente difícil de captar pelas fotos, é preciso estar lá pra ver!
Onde acontece
Em Chiang Mai a festa se concentra nos arredores da Ponte Nawarat. Lá é possível descer para a beira do rio, ofertar seu krathong e inflar seu khom loi em cima da ponte. Fica bem lotado mas é o lugar onde o espetáculo fica mais bonito. Outros lugares mais tranquilos para fazer seu ritual são os próprios templos com os monges, que te ajudam e acendem a sua lanterna usando uma vela amarela. Você pode fazer isso no Wat Pan Tao, Wat Chedi Luang, Wat Mahawan e Wat Lok Moli, entre outros mais afastados da cidade antiga.
É importante notar que toda essa festa é popular e de rua, totalmente gratuita. Hoje existe um grande mercado de eventos para turistas nos arredores da cidade, que coordenam o lançamento das lanternas para fazer aquela cena famosa de milhares de lanternas subindo ao mesmo tempo e proporcionar a foto perfeita pra postar no instagram. São eventos caros, que criam um cenário bonito, mas me pergunto se você encontra algum tailandês por lá. O mais famoso acontece na universidade Mae Jo e custa entre 200 e 400 dólares por pessoa.
Nas ruas são vendidos os krathongs e as lanternas de vários tamanhos por valores que variam entre 20 baht e 100 baht (aproximadamente entre 3 e 13 reais).
Sobre a segurança
Você pode estar se perguntando sobre o risco envolvido no lançamento de tantas lanternas no ar, visto que no Brasil vemos muitos incêndios causados por balões no período das festas juninas.
Pelo que vi nas ruas esses balões não têm muita resistência e carregam pouco combustível, então acabam flutuando por alguns minutos e apagando antes de chegar ao solo. Vi muitos desses caindo e batendo em árvores, sempre apagados.
A orientação é que são proibidos os lançamentos de lanternas, com exceção desses dias de festival. A maior quantidade cai dentro da própria cidade e não chega nas áreas rurais. De todo modo, as brigadas de incêndio ficam em prontidão e há um planejamento aéreo para que as luzes não atrapalhem nenhuma rota de vôo.
Desfile do Loi Krathong
No último dia de festival acontece um longo desfile com carros alegóricos e música. Fiquei surpresa com o investimento realizado nesses carros e nas fantasias, super elaboradas. É uma mistura muito curiosa de carros de grandes empresas apresentando sua marca, instituições governamentais, escolas e universidades.
Achei muito bacana os desfiles de universidades com os professores homenageados desfilando. Curioso o lugar de destaque que eles recebem pelo menos nessa ocasião, coisa que deveria ser muito mais comum no mundo todo, tamanha a importância dessa profissão.
O desfile seguiu por umas duras horas pela Chang Moi Road. Chegando ao fim da rua, próximo da Nawarat Bridge, existe um grande espaço de barracas com comidas variadas e palcos de show “sem álcool”, pois se trata de uma festa religiosa. Tinham umas bandas tailandesas bem animadas e morri de rir com alguns brasileiros quando percebemos que aquela música era muito parecida com um forró.
Vale a pena?
Definitivamente sim! Participar do Yee Peng foi uma das experiências mais legais da minha viagem. Se você planeja um dia visitar a Tailândia, recomendo que tente encaixar as datas da sua viagem pra contemplar esse festival e conhecer Chiang Mai em todo seu esplendor.
Aviso que é preciso se programar com antecedência pois as passagens e diárias de hospedagem ficam bem mais caras. Fique hospedado dentro da cidade antiga, é lá que ocorrem todos os eventos.
Pra quem quiser ter uma noção de todos os eventos organizados pela prefeitura, eis a programação oficial em inglês desse ano de 2019.
1 comentário
Lindos registros .parabens !