Estamos em pleno Sefirat Ha Omer, refletindo diariamente sobre um ensinamento da Kabbalah durante um período de 49 dias. Embora seja possível tirar bons frutos desse processo apenas lendo as meditações e realizando os exercícios diários, existe um vasto campo de conhecimentos cabalísticos a serem explorados. Escrevo esse post na intenção de facilitar a sua vida, te conectando com um conteúdo introdutório de qualidade.
A Kabbalah Hermética
A Kabbalah Hermética surgiu inicialmente ao lado do movimento cabalístico cristão durante o Renascimento Europeu, através de pensadores chave do ocultismo ocidental da época como Cornelius Agrippa, Francis Barrett e Eliphas Levi.
A Kabbalah, ou ciência tradicional dos Hebreus, poderia ser chamada de matemática do pensamento humano. É a álgebra da fé. Resolve com suas equações todos os problemas da alma, isolando as incógnitas. Dá às idéias a sensatez e a rigorosa exatidão dos números; seus resultados são a infalibilidade da mente (sempre relativa na esfera dos conhecimentos humanos) e a paz profunda do coração.
Eliphas levi em O LIVRO DOS ESPLENDORES
Depois, com a efervescência do ocultismo britânico no século XIX, que culminou com a criação da ordem hermética Golden Dawn, foram formadas outras figuras fundamentais para a popularização desse conhecimento como MacGregor Mathers, Aleister Crowley e Dion Fortune.
A Kabbalah Hermética se apóia em muitas outras influências além do misticismo judaico, como a astrologia ocidental, alquimia, divinação, mitologias diversas, neoplatonismo e gnosticismo. Ela se difere fundamentalmente da Kabbalah Judaica pelo seu caráter sincrético.
Concepção da divindade
Uma das principais preocupações da Kabbalah Hermética é a natureza da divindade, cuja concepção é notavelmente distinta da apresentada nas religiões monoteístas; em particular, não há a separação estrita entre a divindade e o homem. Sustenta a concepção neoplatônica de que o universo manifesto, do qual a criação material faz parte, surge como uma série de emanações da divindade.
Essas emanações surgem de três estados preliminares que são considerados precedentes à criação. O primeiro é um estado de completa nulidade, conhecido como Ain (“nada”); o segundo estado, considerado uma “concentração” de Ain, é Ain Suph (“ilimitado”); o terceiro estado, causado por um “movimento” de Ain Suph, é Ain Suph Aur (“luz ilimitada”), e é desse brilho inicial que se origina a primeira emanação da criação.
As Sephiroth
As emanações da criação que surgem de Ain Suph Aur são dez em número e são chamadas Sephiroth (no plural, sephirah no singular), também conhecidas como esferas. De Ain Suph Aur cristaliza Kether, a primeira sephirah da Árvore da Vida. Cada sephirah é considerada uma emanação da energia divina que sempre flui do imanifesto, através de Kether, para a manifestação, em Malkuth.
Cada sephirah recebe um número de atributos que permitem ao cabalista formar uma compreensão ampla de cada emanação em particular. Tal maneira de aplicar muitas atribuições a cada sephirah é um exemplo da natureza sincrética da Kabbalah Hermética.
Por exemplo, a sephirah Hod incorpora os seguintes atributos: Glória, Esplendor, inteligência perfeita, a cor Laranja, o planeta Mercúrio, o deus egípcio Thoth, o arcanjo Miguel, os oito das cartas do Tarot, o deus grego Hermes e o elemento alquímico Mercúrio. O princípio geral envolvido é que o cabalista medite em todas essas atribuições e, dessa maneira, adquira uma compreensão do caráter da sephirah.
A Árvore da Vida
A Árvore da vida é considerada um mapa do universo e da psique, a ordem da criação do cosmos e um caminho para a iluminação espiritual. É uma ilustração das 10 Sephiroth e os 22 caminhos que podem ser percorridos entre elas.
Kether se situa na posição central superior da árvore. É a coroa. É o potencial puro das manifestações que acontecem nas outras dimensões. Representa a própria essência, atemporal e livre. É a gênese de todas as emanações canalizadas pelas outras sephiroth. É a Luz Superior geradora de todo o movimento da criação. Pode-se considerar como o momento zero, a criação em potencial, mas não expandida. Uma interessante associação seria comparar com tempo de Plank, do Big Bang. No hinduísmo, entende-se como Brahma, o princípio vital de todas as formas de energia (e vida, consequentemente). |
Chokmah se situa no topo da coluna direita, o pilar da misericórdia, é conhecido como Abba, o grande Pai. É a sabedoria. Chokmah é a energia pura ainda não materializada. Tem caráter masculino e infinitamente expansivo. É o salto da intuição, que deriva as manifestações artísticas. Analogamente, é o lado direito do cérebro, onde flui a criatividade e o mundo das idéias. |
Binah se situa no topo da coluna esquerda, o pilar da severidade, é conhecida também como Amma, a grande Mãe. É o entendimento. Binah foi a primeira manifestação da forma sobre a força (Chokmah). Ela fez com que a força infinita de Chokmah se tornasse limitada, equilibrando-se reciprocamente. É a lógica que dá definição à inspiração e energia ao movimento. Analogamente, é o lado esquerdo do cérebro, onde funciona a razão, organizando o pensamento em algo concreto. |
Chesed se situa abaixo de Chokmah. É a misericórdia. Representa o desejo de compartilhar incondicionalmente. É a vontade de doar tudo de si mesmo e a generosidade sem preconceitos, a extrema compaixão. |
Geburah se situa abaixo de Binah. É o julgamento. Representa o desejo de contenção e questionador de impulsos. Canaliza sua energia por meio de objetivos, com o intuito de superar obstáculos e transformar a própria natureza. |
Tiferet se situa abaixo e entre Chesed e Geburah. É a beleza. Transforma em beleza Chokmah, Binah e Kether. A sabedoria e o entendimento, com a luz do conhecimento. Representa a divisão da árvore entre o microcosmo, o mundo inferior, o Eu Inferior e as quatro sephiroth acima de Tiferet, o macrocosmo, o mundo superior, o Eu Superior, sendo Kether a centelha divina. |
Netzach se situa abaixo de Chesed. É a vitória. Netzach é a energia dos sentimentos. Existe a vontade de reciprocidade, a busca pelo próximo e a superação dos próprios limites, propagando o pensamento eterno. |
Hod se situa abaixo de Geburah. É o esplendor. Hod representa o pensamento concreto, a razão pura. É um canal de aprimoramento interno, de identificação com próximo, sendo uma forma de aceitação do pensamento, de reconhecimento. |
Yesod se situa abaixo e entre Netzach e Hod. É o fundamento. Yesod representa o Plano Astral. Funciona como um reservatório onde todas as inteligências emanam seus atributos que são misturados, equilibrados e preparados para a revelação material. É compilação das oito emanações. |
Malkuth se situa na posição central inferior da árvore. É o reino. Representa o mundo físico, onde é revelado o material compilado das oito emanações. É o canal da manifestação, desejando a recepção das sephiroth. É a distância de Kether que provoca esse desejo, criando a sensação de falta. |
Aprofundando
Para conhecer mais que o simples resumo acima, recomendo a leitura de um grande clássico desse campo de estudos: A Cabala Mística, da Dion Fortune. Sua explicação completa da Árvore da Vida, que está no cerne do ensino cabalístico, fornece uma chave para o estudo dentro do sistema da Kabbalah Hermética.
Para ouvir
Uma ótima forma de alcançar um entendimento mais prático sobre o assunto é ouvir pessoas que estudam a Kabbalah. Recomendo esses episódios de podcasts: