Pra quem achou que eu só falaria sobre Budismo por aqui, o post de hoje pode ser uma surpresa. Espero que boa!
Essa noite os judeus comemoram o início da Pessach, festa que está profundamente entrelaçada às celebrações da Páscoa cristã. A última ceia de Jesus e seus apóstolos, que eram judeus, teria ocorrido na noite anterior ao primeiro dia do festival e sua crucificação, morte e ressureição teriam ocorrido durante os dias de Pessach.
Mas o que há de interessante nessa data para alguém que não está ligado nem ao judaísmo, nem ao cristianismo, como eu? Bom, além do simples fato de ser uma data que mobiliza pessoas no mundo todo, também é um marco importante para uma prática judaica que pode ser realizada por qualquer pessoa que tenha a intenção de se refinar espiritualmente: o Sefirat Ha Omer, a Contagem do Ômer.
A Contagem do Ômer
Trata-se da contagem do tempo durante um período de 49 dias, sete semanas, entre a Pessach e o Shavuot, uma festa de colheita muito importante para os judeus. Não é atoa que os cristãos celebram o Pentecostes 50 dias depois do domingo de Páscoa. Pois é!
Essa contagem não apenas observa a passagem dos dias, mas está envolta em profundas reflexões sobre a vida e a forma que o praticante se relaciona com o mundo. Em cada dia nós estudamos um aspecto da Árvore da Vida da Kabbalah, meditamos nesse aspecto e nos propomos a realizar um exercício prático.
O Sefirat Ha Omer se tornou popular no meio hermetista entre estudantes de kabbalah e hoje é praticado por muitas pessoas que buscam o auto-refinamento, independente de crenças pessoais. Dia após dia, durante essas sete semanas, estudantes de esoterismo do mundo todo realizarão esse exercício ao lado de judeus, se propondo uma disciplina de introspecção diária.
O que é Kabbalah?
Kabbalah—em hebraico: קַבָּלָה, literalmente (receber/tradição); também romanizada como Cabala, Qabbālâ, etc.; é um método esotérico, disciplina e escola de pensamento no misticismo judaico. Muitos dos seus estudiosos e intérpretes reivindicam uma origem extremamente antiga e misteriosa, algumas vezes atribuída aos Egípcios e outras aos Sumérios.
Durante a Renascença os textos da Kabbalah judaica foram introduzidos na cultura não-judaica, sendo estudados e traduzidos por hebraístas cristãos e ocultistas herméticos. As tradições sincréticas da Kabbalah Cristã e da Kabbalah Hermética desenvolveram-se independentemente da Kabbalah Judaica, lendo os textos judaicos como sabedoria antiga universal.
Ambas adaptaram os conceitos judaicos livremente de sua compreensão judaica, para se fundirem com outras teologias, tradições religiosas e associações mágicas. A Kabbalah Hermética segue hoje como uma tradição central no esoterismo ocidental.
Através dessas associações não-judaicas com magia, alquimia e adivinhação, a Kabbalah adquiriu algumas conotações ocultas populares que são proibidas no judaísmo. Gostaria de deixar claro que é com a Kabbalah Hermética que lidamos aqui, não com a judaica, apesar dos fundamentos de ambas serem exatamente os mesmos, as abordagens e interpretações são diferentes.
A Árvore da Vida
Os conceitos fundamentais da Kabbalah estão representados no diagrama da Árvore da Vida. Nele estão representados toda a estrutura do mundo físico, emocional e espiritual. São conceitos extremamente complexos que levam uma vida inteira para serem estudados, mas para o propósito do Sefirat Ha Omer é suficiente compreender a ideia das sephiroth, esferas ou potências.
A árvore é dividida em dez sefiroth, esferas, ou dez frutos. Esses frutos têm sentido ambíguo, podendo eles ser interpretados tanto como estado do todo, do universo, como podem ser lidos como estados de consciência. Ou seja, podem ser lidos tanto microcosmicamente, do ponto de vista do homem, como macrocosmicamente, do ponto de vista do universo em geral.
Ao longo dos exercícios ficará mais claro o que significam as sephiroth e como essas abstrações se aplicam à sua vida material. Por hora, basta saber que nesses 49 dias nós meditaremos um um aspecto de cada uma dessas esferas abaixo do Véu do Abismo. Elas são 7: Chesed, Geburah, Tiferet, Netzach, Hod, Yesod e Malkuth.
Cada dia aborda uma combinação de duas esferas. Ao fim de uma semana, teremos trabalhado todas as sete combinações em uma única potência da Árvore da Vida. Se dispor a viver essas virtudes nos ajudará a despertar para uma vibração superior das nossas próprias potencialidades e compreender melhor nossas maiores dificuldades.
Como participar?
É preciso estar atento ao fato de que os judeus consideram que o dia se inicia ao pôr do sol, não à meia noite. Os praticantes devem, em qualquer momento entre o cair da noite e o nascer do sol, ler a meditação e assegurar um momento de silêncio para aprofundá-la.
No dia seguinte devem direcionar a atenção, de forma a estarem despertos e conscientes, para a oportunidade de exercitarem a virtude meditada. Estar desperto é bem mais difícil que separar os 10 minutos para meditar.
Tradicionalmente acendemos uma vela e contamos em voz alta: “Hoje é o dia X do Ômer“. Contudo, o uso da vela, assim como a leitura da meditação em hebraico realizada por muitos não-judeus, é opcional e só aumenta o “grau de dificuldade”.
São centenas de milhares de pessoas realizando exatamente o mesmo ritual durante 49 dias. Trata-se de uma egrégora muito forte que vai se encarregar de tornar esse processo desafiador e proporcionar as oportunidades para que os exercícios sejam realizados. Portanto é importante a frequência, a disciplina. Se você perdeu um dia, perdeu. Pode continuar meditando, mas a contagem foi perdida e deve ser reiniciada no próximo ano!
É difícil manter a regularidade e não perder nenhum dia, mas faz parte do jogo. Se for o caso, é interessante notar em que ponto da contagem você esqueceu ou desistiu. Quais esferas estavam sendo analisadas quando você parou?
Se organize
Recomendo que baixem os textos de cada dia para que fiquem acessíveis, sem surpresas. A queda de internet, falta de luz, muitas coisas podem interferir na sua contagem. Se organize para evitar problemas!
Aqui estão dois pdfs para acompanhar o Sefirat Ha Omer. Um é uma versão simplificada, outra avançada que inclui as afirmações em hebraico. Ambas foram produzidas pelo pessoal do Projeto Mayhem.
Acompanhe por aplicativo
Para facilitar a vida dos praticantes, o Hod Studio criou um aplicativo bem legal para realizar a contagem do Ômer. Faça download na Play Store ou na Apple Store.
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